sexta-feira, 22 de junho de 2007

Renovar

Tudo se renova;
Renova-se a hora, o dia, o mês, o ano.
Renova-se idéias, cores, segredos, que de tão segredos,
perde-se no tempo, que se renova também.
Renova-se as folhas que deitam no chão,
a estação,
a emoção,
os sonhos.
Renova-se uma nova história.
Renova-se a vontade, a idade, o olhar, a alegria.
E renova-se a estrela que cai que de tanta gente,
renova o pedido.
E quando tudo estiver para acabar,
quando a luz já estiver por se apagar,
renovar-se-á então a vida,
que nos dá essa chance,
de simplesmente, tudo renovar.

(Cássio Almeida)

terça-feira, 19 de junho de 2007

Sigamos assim


Sigamos assim, escrevendo,
ou melhor,
deixando fluir a imaginação.
Essa imaginação caduca,
que poucos entendem,
mas todos sentem.
Assim como as ondas do mar,
quando vem e molham nossos pés.

(Cássio Almeida)

Mar profundo


Aqui é onde esconde-se,
esconde-se até o que eu não sei.
Na imensidão
no mar profundo da alma.
O barco que trazia,
que trazia poesia
não chegou...
Um barco sem vela
um barco á deriva.
O poeta então naufragou
no mar profundo da alma.
Alma sem fundo
barco caindo
o poeta então
eternamente nadou.
Alma sem fundo
o poeta não sabia
que na região mais profunda
também há poesia.
Eu então,
que nada sabia
na beira da praia
o mar anuncia:
_és a simples vela
que o barco precisa.
Agora entendo
quando a maré subia
trazia das profundezas
aquelas tais poesias.

(Cássio Almeida)

Livramento do Santana


Quando toca o violão,
o Livramento do Santana
Toca a sua vida
ou da vida esquece?
Toca a simples cópia
toca a sua cria.
E quando o violão grita
desafinado o seu descanso
segue tocando em segredo
o Livramento do Santana.
Toca o fim do infinito
quando viaja em pensamento.
Lugares imaginários
convidativos a escrever
Papel, caneta... poemas.
Pode até estar calado
É, o Livramento do Santana.
Mas quando toca o violão
toca a alma
a divina criação
E o que a gente escuta
o olhar simplifica.
Escutamos a mesma nota
a mesma nota poesia.

(Cássio Almeida)

Quando chega a noite


Teve um dia que o poeta calou
Quais palavras simples, raras
ou obscuras vai usar.
Pela primeira vez, não sabia o que dizer.

Mas logo via num olhar caduco
que naqueles pensamentos múltiplos
há razões para escrever,
há razões para criar.

Quando chega a noite
também chega a fantasia
E esse medo que não desgruda
E essa noite que não chega.

(Cássio Almeida)

Coração infinito


Quanto ao amor,
dispo o meu coração.
De tanto amar,
aprendi a viver.

Então se vivo por que amo,
nunca conhecerei a escuridão.
Pois meu coração infinito,
nunca deixará de amar.

(Cássio Almeida)

Poema, poesia, pensamento

A lua ilumina
de novo
o escuro tão fundo.
Lá estão os poetas mortos
Eles sussurram pelos cantos
aos poemas serem escritos.
Está no ar...
Poema, poesia, pensamento.
E eu absorvo
Num sono profundo
profundo como o mar
há eterna poesia calada.
E quando a lua ilumina
de novo
o escuro tão fundo
Eu, sentado nas pedras
vento no rosto
olhar no horizonte
coração sorrindo
e maré chegando.

(Cássio Almeida)

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Lado B


Como nos velhos tempos, no tempo dos vinis, das fitas cassetes, no tempo em que ainda tinha-se o lado B. O lado B das coisas.
Porém, como nos velhos tempos, eu ainda tenho o lado B, acima de tudo o lado B de mim. É ali que ás vezes escondo-me, ali, que outrora chamei de mundo particular. É nesse mundo que quase sempre estou, no lado B que só eu posso ouvir, sentir, voar, viajar num piscar de olhos. E o melhor de tudo, estar livre.
Livre das preocupações, livre das injustiças, livre da mentira.
Livre da hora, do frio, do bandido, da bala perdida, da partida, do partido. Livre da poluição, da contaminação, do barulho ensurdecedor das usinas. Da máquina que destrói casas, da máquina que fabrica máquinas e que destrói casas. Livre do medo, do susto, do escuro, da fumaça, da barca furada, do leão, dos juros.
Livre dos muros, do alarme, da falsidade, da guerra, da bombinha âtomica.
Livre de tudo. Ponho-me assim, livre. Atado, só o meu coração. Que despreza os lados, sempre reinando, por não deixar de amar.
Laço tão forte que ninguém desata, lado A, lado B, não há lado que resista a grandeza de amar.
Pois bem, aqui encontro verdade, no lado B, não que na vida real eu não encontre, mas aqui é diferente. Aqui as coisas têm outro significado, outras medidas, aqui vejo o que não quero ver, ouço o que não quero ouvir.
Quanto ao coração, esse não vai mudar. Diferente ao coração, apenas os que não têm. Pois aos que possuem, ele sempre vai soar mais alto em qualquer dos lados. Ele vai ser o seu guia pelo mundo.
Como nos velhos tempos, no tempo dos vinis, das fitas cassetes, no tempo em que ainda tinha-se o lado B. O lado B das coisas.
E esse lado meio caduco, todos encontram, até quem não quer.
Não precisa ir longe, basta apenas fechar os olhos.

(Cássio Almeida)

Retina


Um olhar diz tudo
É tão profundo
quanto ás batidas do coração.
É tão penetrante
quanto as balas de um fuzil
mesmo que nunca tenha sido alvejado,
mais profundo que um olhar, não pode ser.
Mas um olhar verdadeiro.
Não um olhar glacial,
vazio de sentimentos.
Quero um olhar que diga
que faça rir e chorar.
Que faça te ver
mesmo quando fecho os olhos.

(Cássio Almeida)

Mundo particular


Em comum vivemos no mesmo mundo.
Mas cada um de nós tem um mundo particular.
Na rua você caminha e tropeça no mesmo mundo que todos tropeçam. Mas
as dores do mundo de todos, você vai sentir é no seu mundo particular.
Pra falar a verdade, eu vivo mais no meu mundo particular do que no mundo de todos.
No meu mundo não há regras, não há leis, não há hora certa pra nada. Deve
ser por isso que ás vezes é um verdadeiro caos aqui dentro.
Mas aqui você é livre pra tudo.
Confesso que em alguns momentos você fica preso sim, você não sai do lugar
mesmo... Mas isso geralmente acontece quando estou dormindo.
Aqui você cria e controla quase tudo, você pode até achar o final do seu mundo,
diferente do mundo infinito de todos.
Ah... o mundo é particular, mas por incrivel que pareça, sempre há invasão
de um o outro no meu mundo. Uns são penetras, mas outros sou eu mesmo que convido.
Não vou negar, eu também invado alguns mundinhos por aí, uns eu faço questão
de invadir, há outros que não tem como entrar mesmo. Você pode até estar em
vários mundos particulares ao mesmo tempo, mas quase sempre dá confusão no final.
Aqui no meu mundo, os dias terminam sem ter começado, e á noite o sol brilha no alto.
No meu mundo é assim, tudo pode acontecer. Nem eu sei o que vai acontecer
daqui há um segundo.
Aqui no meu mundo particular, é como se eu fosse um semi-Deus, uma segunda
força divina.
Acima de mim, há um Deus todo poderoso que rege o meu mundo.
Um Deus simples, apelidado de imaginação.

(Cássio Almeida)

Espelhos


Quando me vejo
face a face
procuro de tudo
Achar respostas,
secar o choro,
despir a alma.
Mas de nada adianta,
coisas não mudam.
Os espelhos refletem
o mundo,
mas não refletem
o meu sentimento.

(Cássio Almeida)

Gineceu


Da janela então eu via o mundo
um mundo pequeno,
um mundo enquadrado.
E via passar o dia,
e via passar o pássaro.
Pesadas penas que o paravam.
Também pesava a hora,
também pesavam as flores.
As belas flores sob a chuva...
Mais bela é minha flor
A flor sem pétalas,
a flor sem espinhos,
a flor que beija.
Mas igualmente exalam
o aroma do amor.
Eu então um colibri,
pesadas penas que paravam-me
Devagarzinho,
de flor em flor,
eu volto a voar.

(Cássio Almeida)

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Conta giro


Hoje corro contra o tempo
corro na direção do vento
ando rápido nas curvas perigosas
e nem o abismo é o limite.
Agora atropelo o horizonte
cavalgo pela escuridão
ultrapasso a correnteza
e descanso na imensidão.
Agora vôo como um pássaro
cruzo o céu como um cometa
faço a vida correr,
mas isso quando estou só.
Quando estou com você
o que eu mais quero
é desacelerar o tempo,
é abraçar os segundos,
é transformar uma hora
em uma vida inteira com você.
Agora descanso nas palavras
repouso no tempo que me sobra.
Mas a minha alma,
mas o meu espirito,
corre loucamente, solto por aí.

(Cássio Almeida)