quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Alguém que me explique como tudo se fez


Big Bang!!!
E tudo se fez...
Só não fez-se a solução.

(Cássio Almeida)

Amigos


Aqueles que te fazem rir
num momento triste da vida,
aqueles que choram junto
e nem sabem por que.
Mas amigo mesmo aquele
que chora e ri,
chora e ri de novo.

(Cássio Almeida)

Em busca

Procurava,
não sei ao certo o que.
Uma simples resposta,
para uma simples pergunta.
Ou quem sabe um pingo de tinta,
para uma vida sem cor.
Procurava,
uma palavra que tivesse sentido.
Queria ao menos achar o certo,
sem me preocupar com o que eu fiz de errado.
Talvez nada quisera encontrar,
apenas tivera fugindo.
E ao procurar eu me escondia.
Mas o pior de fugir da vida,
era procurar algo que não tivera perdido.

(Cássio Almeida)

O capricórnio alado


Rumava para o trabalho sempre pelo mesmo caminho. Cruzava pelas mesmas pessoas, na mesma hora, no mesmo local. Mas um dia alguma coisa aconteceu. O mendigo que sentava na esquina me chamou. Eu já ouvira histórias sobre ele, a mais estranha contava que ele lia todo dia um jornal de anos atrás.
Quando me aproximei, as folhas amareladas do jornal comprovavam a tal história.
_ Não precisa ter medo _ disse-me o mendigo, olhando para o jornal.
_ Não estou com medo _ respondi.
_ Então sente-se aqui Joãozinho louco.
Agora realmente ficara com medo, ele chamou-me por um apelido de criança. Eu já tinha até esquecido, mas ele fez questão de me lembrar do apelido, que por sinal, eu odiava.
_ Quem é Joãozinho louco? _ retruquei.
_ Ora João, você sabe.
Tive que admitir.
_ Como você sabe desse apelido, eu nunca falei sobre isso com ninguém.
_ Ah, você já deve ter ouvido muitas histórias sobre mim. Nunca ouviu falar que eu sou um adivinho.
Adivinho, essa era mais uma história que eu ouvira sobre ele, e de novo a história comprovara-se. Lembro até uma matéria que um jornal fes com ele: "O profeta das ruas".
Continuei...
_ Sim, já ouvi falar muito das suas histórias. O profeta das ruas, lembrei-lhe.
_ Pois é _ disse ele, folhando o jornal de folhas amareladas.
_ Aqui está! A matéria que você se referiu.
Agora começava entender a tal história do jornal.
_ Ah! É por isso que você lê o mesmo jornal todos os dias, você fica aí se admirando no jornal.
_ Na verdade é por causa do horóscopo.
_ Horóscopo?
_ Sim, que signo você é? _ perguntou-me.
_ Capricórnio _ respondi.
_ Pois é, eu também.
Não estava entendendo nada, mas ele tratou de me explicar.
_ Quando você era criança, você tinha um sonho, não é?
_ Sim, mas fui crescendo e o tempo me fez esquecer.
_ Eu sei, deve ter sido difícil pra você, afinal, não é comum alguém querer voar como um pássaro.
Cada vez mais aquele senhor de barba branca e roupas esfarrapadas me surpreendia.
_ Mas como você sabe de tudo isso?
_ Eu estava lá.
_ O que?
_ Você lembra quando começou a desestir do seu sonho.
_ Claro, foi quando eu subi no alto de uma árvore e pulei. Eu queria tentar voar. Eu me salvei por que cai em cima de um homem que passava por lá.
_ Pois é, até hoje eu tenho problema de coluna por causa disso.
_ Não acredito!!! _ falei surpreso.
Nesse momento abraçava-lhe com toda a força. Afinal, se não fosse por ele, eu estava voando no céu há essas horas.
_ João, eu tenho o mesmo sonho que você. A diferença, é que você não teve medo de saltar e descobrir que era impossível voar. Eu tenho medo, por isso sigo com esse sonho de criança. Eles me chamam de louco também. Agora eu vivo na rua, nessa esquina, onde encontrei esse jornal com a minha matéria. O horóscopo é o que me motiva, olha aqui _ me mostrando o jornal de folhas amareladas.

Capricórnio:
"Hoje você acordou de alto astral, não é?
Então não espere mais para dar um salto na vida.
Espanda os seus horizontes, voe para longe."

Agora eu sinto o que passa pela cabeça dele. A minha coragem livrou-me de um sonho impossível. Agora o medo, prende o velho mendigo na esquina.
Entreguei-lhe o jornal, não sabia o que dizer. Ele estava em silêncio, coloquei as minhas mãos em seus ombros e disse:
_ Preciso ir trabalhar, mas foi bom ter conversado com o senhor. Como é mesmo o seu nome?
_ João _ indagou com a voz trêmula.
Mais uma vez ele me assustou. Dei tchau e fui trabalhar.
Depois de um dia de trabalho, voltava eu, pelas mesmas ruas de sempre, na mesma rotina. Quando estav perto do local onde tive a conversa com o mendigo, avistei um aglomerado de pessoas em volta de alguma coisa que eu não sabia o que era.
perguntei para uma pessoa o que havia acontecido:
_ Hei rapaz! O que está havendo aí?
_ Dizem que uma pessoa se atirou do prédio aí em frente.
_ Espantei-me, a primeira coisa que fiz foi olhar para a esquina pra tentar avistar o mendigo. Ele não estava lá, pensei o pior.
Quando cheguei perto da multidão, avistei um corpo coberto por jornais. Um jornal de folhas amareladas sujas de sangue.
Eu não acreditava, o meu coração disparou. Ele não podia ter feito isso.
De repente eu escuto uma voz enraivecida:
_ Eu não acredito!!! Sujaram o meu jornal.
Olhei para trás, e lá vinha ele com a sua barba longa e suas roupas esfarrapadas. O mendigo sem se preocupar com a situação, que de fato era triste, indagou:
_ Pô! João, hoje em dia não dá pra descuidar mesmo, foi só eu virar as costas que afanaram o meu jornal, assim não dá!
Segurei um sorriso. E o mendigo João ainda disse mais uma:
_ É, mais um sonhador hein, eu sou sonhador e mendigo, mas não sou burro, tá louco, dessa altura nem pensar. Quem sabe de cima de uma árvore.
Dois capricornianos, duas vidas. Essa noite eu não fui para casa, tinha muito o que conversar. O mendigo e eu, tomamos um café, compramos um jornal e sentamos na esquina.

(Cássio Almeida)

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Profeta cigana


Parou-me na rua,
aquela singela cigana.
Queria ler o meu futuro
na palma de minha mão.
Assim, bem simples.
Profecias feitas por alguém
que nem mesmo sei
nunca me viu nos olhos.
Como pudera alguém me profetizar
se nem mesmo eu
num todo me conheço.
Lado B, mundo particular,
no lugar onde me escondo,
lá ninguém me acha.

(Cássio Almeida)

Alguém que sonha demais

Por um instante perdeu-se o tempo.
E a eternidade pareceu-me tão pequena.
A hora gritava
e pegava-me pelo calcanhar.
Talvez por ser alguém que sonha demais
não percebia.
E no exército dos sonhos,
os minutos marchavam e batiam continência.

(Cássio almeida)