quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Não sei quase nada do que acho que sei


Não sei...
Não sei quase nada do que acho que sei
meros devaneios perdidos
pois se achados, quão irão se perder.

Não sei quase nada do que acho que sei
quando suspiro forte
vento inquieto que passou calado.

Outrora me veio um olhar brilhante
que mais parecia um vagalume perdido
era a lâmpada de cima da cabeça
que não havia acendido com a luz das idéias.

Não sei quase nada do que acho que sei que existe no Mundo,
quase nada.
Mas ainda sei que existem coisas incomparáveis
coisas que nem todo mundo conseguem sentir.

Da vida, ainda salvam-se os que entendem o algo a mais,
os que lêem as entrelinhas,
os que ainda avistam um horizonte melhor mesmo no escuro.

Não sei quase nada do que acho que sei,
principalmente do coração.
Mas enquanto seguem brigando os sentimentos, salva-se de longe ainda o amor.

(Cássio Almeida)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O agreste dos olhos


Os olhos secaram.
Todas as lágrimas de repente viraram pó,
gota por gota,
esvaíram-se como um fio d'água no solo seco.
O que era mar virou sertão.
Onde terá ido o rio que enchia o meu coração?
Foi desviado pra longe, bem longe, tão longe.
O brilho agora opaco dos olhos
pede e reza que volte logo o brilho claro e sereno
banhado pelas lágrimas.
Mas os olhos secaram.
O sol gastou todo o seu brilho pra rachar o solo onde piso.

O agreste dos olhos arde e queima fogo e chama...

Mas há de chorar,
como chuva em meio ao deserto,
pra de novo florir os campos
encher o mar e o coração
o rio encontrar o caminho,
e os olhos de novo brilharem
como um lindo dia de verão.

(Cássio Almeida)

sábado, 17 de julho de 2010

Último ato

E de repente foi-se a vida
como um suspiro ao vento
como uma lágrima na chuva.
O sol é visto a olho nú, já não brilha tanto.
O coração bate, mas sem uma grande parte.

Enquanto isso um tapete vermelho é estendido lentamente
por um caminho cheio de flores onde um anjo vai passar.
Uma multidão, todos de pé, aplaudem sem ter hora pra cessar,
Os sinos e os clarins já anunciam,
os olhos brilham, os sorrisos largos,
não há lá, quem não saúda sua chegada.
Aqui, só nos resta saudade...

Fecharam-se as cortinas da Terra,
abriram-se as cortinas do céu.

(Cássio Almeida)

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ainda o amor


Há quem diga que seja invenção, que não exista e seja tudo um conto de fadas, há quem desconfie e no fundo diga que já sentiu. Há quem ache que é tudo uma brincadeira de crianças, mas há quem ache que é tudo coisa séria. Há quem diga que é somente paixão, vem e vai embora. E há quem diga do outro lado que seja eterno, tão inseguro quanto a vida.
Há quem chore,
há quem ria,
há quem sonhe,
há quem jure,
há quem apenas acredite em um sentimento maior, indiferente do seu nome. Acredite que é algo que o diferencia dos demais, que seja o caminho certo, o caminho que levará ao encontro da felicidade.
O amor.
Ainda é o amor o epicentro do nosso coração, que causa tantos tremores em nossas vidas quanto a um abalo sísmico real. É ele ainda que nos faz suspirar por um simples piscar de olhos, ou mesmo sem nos conhecer, cruzar em nossa frente tão lenta como um dia de verão. Ainda é o amor que nos cutuca na hora certa, e vem como as ondas nos acertar em cheio como acertam as pedras a beira mar. Ainda é esse sentimento que nos mostra que existe algo acima de tudo, tão acima quanto as nuvens, tão profundo quanto os mares, tão forte quanto os ventos, tão belo quanto um pôr-do-sol.
Ainda o amor, tão simples e tão sincero, que ainda nos fazem crer naquele sorriso tímido, e naquele abraço apertado, e naquele olhar brilhante, que faz ter sentido o que nós sentimos, e que nos mostram que o amor sempre valerá a pena, se um dia por descuido alguém conseguiu despertá-lo.

(Cássio Almeida)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Quando o tudo é nada



Diante de mim, a vida.
E eu à tenho, e eu à vivo,
com toda força, sem pressa,
pois o tempo e todo seu tempo,
eu tenho.
E eu tenho o sorriso estampado na cara
mas também tenho as lágrimas
que sempre caem na hora certa.
Eu tenho lembranças infinitas
guardo tudo, e vou lembrando ao passo do passar
e choro a lágrima que guardei pra ti.
Eu tenho o coração gigante
que cabem todos, e mais, e mais,
e vão chegando, e não param de chegar
e vão pulsando o sangue que me faz viver
e nem percebem, que o combustivel da vida
é cada uma das pessoas que eu guardo.
Eu tenho olhos que avistam tudo
o que me rodeia, e o que nem aparece à vista
avisto o horizonte subentendido,
e as entrelinhas do olhar até o toque.
Mas finjo que não vi, o que ás vezes nos cega.
Eu tenho energia de sobra para brincar com a vida
andar por aí sem rumo,
tomar um banho de chuva,
rir até que doa a barriga,
jogar uma conversa fora,
refletir em frente ao mar,
ficar em volta da fogueira,
a lua, o violão e nós...
A energia que me falta
é apenas a preguiça de ter que acordar no inverno,
é o pecado que mais cometo.
Eu tenho a melhor mãe do mundo (que nem todo mundo),
e irmãos que são parte de mim.
Eu tenho uma vontade de conhecer a Nova Zelândia,
e o resto do mundo também.
E vontade não me falta
de conhecer o mundo do ser.
Se eu pudesse imaginar o que as pessoas sentem
talvez eu não tivesse vontade de descobrir,
mas eu tenho.

Eu tenho tudo,
mas não tenho o que eu quero.
O porque eu não sei,
sempre acho que faço tudo certo.

Talvez eu tenha que fingir
e deixar tudo ao senhor do tempo
e ter que ver mais uma vez
o fim da tarde chegar.
Pois eu tenho todo o amor do mundo
mas não sei se me têm.

(Cássio Almeida)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Escova de dente e um quilo de sal




Será mesmo que conheço as pessoas?
Ingenuidade minha, pode ser. E a cada segundo um segundo a menos, e a cada segundo é um piscar de olhos, e passos se cruzam, e cruzam seus mundos e tropeçam seus pés, e você se segura com um abraço, e eu seguro um sorriso. Será que foi o meu amor que tropeçou e eu a segurei? As pessoas tropeçam, e os amores passam, e até nos acenam, e até disfarçam, e até não se conhecem, e até brincam, e até brigam e até se admiram. E a projeção fica por nossa conta, e nossa imaginação voa longe, pensando em cada tropeço, instante e movimento.
Será mesmo que conheço a quem julgo um sentimento?
Conheço a mim, pois aos outros sobra aquela eterna dúvida do que está pensando agora... Cada um leva a sua projeção no bolso, e desvendar esse bolso sem fundo, é o que nos atormenta quando se está sozinho. O que será que pensa tal criatura quando está sozinha? Pois verdadeiro pensamento e afeto, é o que nos chega quando estamos sem querer paralisados olhando fixadamente para nada, mas que no final é tudo. E a roda da vida continua girando.
Será mesmo que conheço o que eu sinto?
Ora, se não sou eu quem faz minha própria projeção, e tudo que imagino talvez no final faça algum sentindo. Como quando passa a tempestade e vem a calmaria, a gente fica pensando quando o nosso temporal de sentimentos vai passar. E a gente lembra que a maré vem todos os dias e trás tudo de volta, e nós ficamos assim, olhando pro horizonte esperando um ao outro. E o barco continua navegando, sem porto, sem cais.
Será mesmo que conheço a minha projeção?
E se não é perfeito o filme que eu próprio dirijo, como entender as cenas do próximo capítulo? Esse é o mistério. A novela da vida de cada um só se descobre depois do fim, pois até lá, é apenas capítulos, um atrás do outro, dia após dia, cena por cena, e todo mundo sabe que o verdadeiro final é nós que fizemos. E realmente, a gente só se conhece depois de um quilo de sal.
No mais, são só pitadas que temperam o que a gente projeta, que fazem da nossa história um obra-prima, digna de Oscar, que nos fazem chorar, sorrir, imaginar, sonhar, que nos fazem ser em sonho, o que no fim imaginamos ser.
E a projeção acaba, quando sem querer e sem perceber, sua escova de dente estiver perto da minha, e perceberemos que tudo na nossa vida é um filme, sem roteiro, mas com final feliz.

(Cássio Almeida)